Exposição Sementério

"Acuro Há uma pinta na nuca que se abre. Dela emergem velhas anciãs Traçando linhas sinuosas por entre frestas Lambidas de luz. Nas dobras do tempo Mergulho a cabeça na terra. Ser uma garganta nua De línguas doces e afiadas. A saliva é o sopro do rio que corre por dentro. Céus de águas sobre nós. Curar é cuidar Velar e gerar Ruir Recriar Fiar o pó Sementério. Em meio ao primeiro pico da Pandemia, em junho de 2020, me vi de volta à casa dos meus pais e, de repente, toda a minha família adoeceu com Covid 19. A responsabilidade, o medo, a incerteza – no corpo só. O manter a sanidade em tempos de caos e impermanência. E de dor. De raiva. De negligências. Mas de resistir existindo, vivendo, imaginando, lutando, urrando. Como presentificar nesse mundo esse corpo que adoece, que cura, que morre, vive, morrenasce, a cada ar que entra e que sai? Sonhei com minhas avós, elas me guiavam por estradas e caminhos estranhos, íngremes, difíceis. Num relance a imagem era a cabeça raspada. Sob uma lua eclipsada, escorreram águas pelos meus cachos. A série de fotos Sementério é fruto desse processo."